sábado, 31 de outubro de 2009

MACONDO NA ATUALIDADE


        A obra de Gabriel Garcia Márquez é surpreendente, tanto pelo estilo literário (comumente encontrado nas obras latino-americanas), quanto pelo recurso estilístico denominado de realismo fantástico. Cem anos de solidão é um livro excitante e leva-nos a viagens emocionantes, rico em detalhes, faz a imaginação transcender através da história.


        Através de Macondo, uma pequena vila isolada do resto do mundo, o autor nos faz lembrar ou comparar pequenos bairros ou vilas dos dias de hoje. A louca ambição de José Arcádio Buendía, suas crenças, que muitas vezes tinham como características a ingenuidade por não conhecer outras terras podem ser claramente comparadas com o conhecimento empírico vivido na atualidade.

        Utilizando de uma forma mágica, o autor faz com que o conteúdo do livro mantenha-se numa linguagem atual, abordando como idéia principal, sentimentos e valores. A história será apreciada de geração a geração, seus propósitos e conhecimentos continuarão enriquecendo e deslumbrando quem o ler, pois, esses são assuntos vividos por todos desde sempre.

        Outro fato, pelo qual podemos comparar com a atualidade, mais especificamente à pequenos povoados onde o principal meio de subsistência é o agrícola ou pesqueiro, é quando os Buendía sofrem perturbações por algum tipo de fantasma que troca de lugar os objetos de Úrsula, a ponto de ela ter que amarrar com barbante, afim de não perdê-los. Uma crença que pode ser comparada é a do Saci Pererê, que assim como o fantasma dos Buendía, também é famoso por atrapalhar os afazeres domésticos, trocar as coisas de lugar e implantar a contenda nas comunidades, principalmente no interior do Brasil, assim como as tormentas de Macondo, esse mito indígena é comumente encontradas nas periferias de todo o mundo.

        Curioso é nos lembrarmos de Remédios, a bela, diferente de todos os outros, não tinha maldade nenhuma em seus pensamentos ou atitudes, porém, carregava consigo a maldição de que todos os homens que viessem a procurá-la por amor atraídos pela sua beleza inigualável acabavam por morrer tragicamente. Sua figura assemelha-se a de uma santa, anda nua pela casa sem se preocupar com nada e ninguém, jamais existiu desejo sexual em sua carne e termina de uma forma sobrenatural quando sobe aos céus.

        Melquíades, um cigano alquimista, que mais tarde enlouquecera previu com cem anos de antecedência o destino dos Buendía e sua eterna maldição. Passou grande parte de sua vida em clausura num apertado cômodo da casa envolto à escrita de vários pergaminhos, que por sua vez, só foram decifrados ao término de cem anos. O excesso de conhecimento e sabedoria consumiu sua razão. Algo intrigante é o fato de não sabermos o motivo de levou Melquíades a não revelar o segredo contido nos pergaminhos, somente poderia o último da geração.

        Assim como o comportamento dos casais no livro, presenciamos também em comunidades de todo o mundo, de tempos atrás aos dias de hoje, estão presentes o amor, ódio e traição. Não é diferente no triângulo amoroso de Amaranta, seu marido Gastón e Aureliano. Enquanto Gastón dedica-se aos projetos de José Arcádio, acaba por introduzir no coração de sua esposa a falta de amor. Amaranta, por sua vez, carente de marido fica vulnerável às loucuras de paixão de Aureliano, ela cede e se entrega.

        A forma com que os personagens são inseridos na história repetindo seus nomes, da primeira a sétima geração, a semelhança de suas personalidades e o reacontecimento de diversos fatos cristalizam a idéia de continuidade, a história de amor, desgraça e desejo parece não ter fim, num ciclo intenso e interminável, o autor consegue perpetuar uma mesma família até o fim dos cem anos.

        A família dos Buendía passa por muitas dificuldades no início, aos poucos esse quadro se muda. Sua casa, com o chão de terra batida e com uma mal aparência se transforma em um teto espelhado e uma grande variedade de artigos de luxo ocupa seu interior. Novamente a casa é deixada às traças e formigas, que com fulgor consomem, não só a mansão, mas como toda a família. Os que de início gozavam de uma vitalidade invejável perante toda a Macondo acabaram ensimesmados em seus terrores pessoais. Tão evidente é o ciclo da bonança à desgraça, que dos muitos integrantes da família, só resta um, que acaba por ser consumido implacavelmente por milhares de famintas formigas.

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