quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Mistério do Telefone








       Sentado observava o movimento vago da rua e, por sua cabeça passava que pudera também estar sendo observado. Como todas as noites, Bruno fumava seu cigarro na varanda do sexto andar, tomava um trago de conhaque, folheava o jornal e pensava, sonhava.

       Numa noite destas, perto das onze, o telefone que, há muito tempo não tocava anuncia que alguém o procura. Toca uma, duas e três vezes, o tempo suficiente para arrastar-se sobre sua perna dormente e atender. Do outro lado da linha, uma voz fresca... virginal, como de uma menina:


       - Bruno. E se calou. Ele aguardou alguns instantes até desligar, esperava o calafrio que cobria-lhe dos pés a cabeça passar. Um turbilhão de pensamentos e ansiedades começavam a tomar conta de Bruno, ele se perguntava quem poderia ser, e por muito tempo a dúvida pairou em sua mente.


       Sem respostas, ele mergulhava em cada gole de conhaque e voava na amarga fumaça de seu cigarro, que lhe ardia os olhos e o fazia chorar, Bruno definhava-se aos poucos, não tinha mais forças para levantar-se e observar o movimento pela varanda. Arrastava-se ali, no sexto andar, sobre um par de velhos chinelos cujo couro foi consumido, quase que por completo pelo tempo, aquele homem com a expressão cadavérica e com o corpo curvado.


       Quando ele já estava quase desistindo da menina, o telefone toca, desta vez às onze horas, pontualmente. Bruno já está velho e curtido em álcool, só consegue atender no quarto toque, ofegante ele diz “Alô”:


       - Bruno... Novamente a menina se cala, o que faz renascer de seu interior uma raiva e amargura que, numa explosão são lançadas ao ar: “Puta que Pariu, quem é você”? A voz nada diz. Ainda em seu surto de ódio, quando terminava de quebrar os objetos de sua casa, é interrompido pelo soar do telefone que milagrosamente foi preservado de sua ira, ele respira, limpa a poeira de sua camisa e caminha até o telefone, desta vez ele pensa em manter a calma, com um pouco de dificuldade atende no quinto toque, e a mesma voz:
       - Bruno, você tem novas mensagens em sua secretária eletrônica.







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